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Cerca das 15 horas, aproximámo-nos ambos da paragem dos autocarros, depois de ter deixado a Filha e o Neto seguir o seu caminho.
Estava um vento frio; as pessoas, paradas no amplíssimo terreiro frente ao Palácio, encolhiam-se dentro dos seus abafos, tal-qual avezinhas desprevenidas.
Um cavalheiro ofereceu-me o seu lugar no banco de madeira da paragem – sem que eu lho pedisse.
Disse e repeti que não, mas ele insistiu tanto que acabei por aceder: sentei-me ao lado de uma jovem que, entretida ao telemóvel, tagarelava alegremente
com um interlocutor distante.
Quando se apercebeu da presença da minha Mulher, fez, também ela, questão de se aconchegar para um dos lados e insistiu com ela para que se sentasse
também ao meu lado.
Tomámos o autocarro em direcção a Lisboa.
Para desgosto da Rosa, não era directo, mas circulava pachorrentamente pelas aldeias dos arredores, em curvas e contracurvas que lhe moem a cabeça.
Em Lisboa, tomámos um táxi, depois de termos parado para lanchar no café que existe por ali, sempre recheado de estudantes universitários.
Na CUF, na hora antes acordada, a Rosa submeteu-se à consulta médica: regressou de lá com um manancial de pedidos de exames variados, que logo ali
encomendámos para um dia de Março próximo.
No regresso, nova viagem de táxi: o primeiro chauffeur era de Tarouca e, no percurso, contou-nos o que era a sua vida, com três filhas menores e uma
imensa vontade de viver:
“Se pudesse, reformava-me já e ia para a terra. Lá é que se vive bem. Aqui, no meio de toda esta confusão, um tipo dá em doido”.
Tem 42 anos de idade, ainda lhe falta quase outro tanto para a suspirada reforma, pelo caminho que estas coisas levam.
O segundo chauffeur era lisboeta de gema, nascido ali para os lados do Bairro da Quinta da Calçada:
“Um bairro porreiro, de gente simples mas honesta. Aquilo era uma autêntica família. Tínhamos lá escola, médico, assistente social, polícia, fiscais, jardineiros,
praça, creche, água de borla e rendas baratas”.
Conhece Lisboa e arredores quase como a palma da mão:
“Há sítios para onde não vou –confessa. “Nem sequer de dia, quanto mais à noite!
Ná, a mim não me apanham lá!...
Aprende-se muito nas conversas com os motoristas dos táxis, que conhecem o palpitar da cidade talvez melhor que ninguém.
Ao chegar ao Campo Grande, a Rosa precipita-se para uma camioneta que, parada, recebia passageiros.
Entrei e exibi os bilhetes pré-comprados:
“Vocês vão para Mafra, têm ali uma camioneta directa” – disse espontaneamente o motorista, apontando para o local de paragem dos autocarros directos.
Agradeci-lhe, saímos, meti-me na fila e subi ao piso superior do amplo autocarro, cujo piso inferior já estava lotado.
Pelo caminho, passei pelas brasas.
A minha Mulher tocou-me no ombro:
“Levanta-te, já estamos lá!”.
Saímos, estava um vento norte geladíssimo, arrependi-me de, à última hora, ter deixado o cachecol sobre uma das camas.
Atravessámos o amplo terreiro, descemos a Rua Serpa Pinto e entrámos em casa, gelados como sorvetes.
Hoje estamos ambos constipados.
Era inevitável!