25.08.17
LE BISTROT DU CURÉ
simplesmente...
Nos finais dos anos 80, em pleno período da Páscoa, o hotel que nos reservaram ficava situado paredes meias com o Moulin Rouge, a poucos passos dos sexódromos e dos sexshops de Paris e à distância de uma estação de metro do Hospital Beaujon.
À entrada, o porteiro do hotel – um jovem argelino simpático e falador – disse-nos espontaneamente que não tivéssemos qualquer receio, pois ninguém nos incomodaria.
Na verdade, circulámos pelas ruas pejadas de casas de câmbio e de lojas as mais diversas; entrámos nos cafés e nos restaurantes; vagueámos um pouco por todo o lado – e ninguém se meteu connosco.
A páginas tantas, deu-nos a fome.
Levantei os olhos e vi um pequeno restaurante, que me pareceu asseado e acolhedor.
Entrámos e sentámo-nos.
Jovens muito simpáticos e faladores apresentaram-nos de imediato a ementa com os pratos e os preços, aliás acessíveis.
Os pratos eram simples mas bem confeccionados; o atendimento era impecável; a limpeza era notável.
Enquanto tranquilamente comíamos, observei que uma corrente de pessoas subia uma escada que dava acesso ao piso superior, mas, passados minutos, desciam, sem nada consumir no restaurante.
Fiquei intrigado e perguntei-me a uma das jovens que era aquilo.
“Se quiserem ver, eu mostro. Não tenham receio que não é nada de mal”.
Acabada a refeição e feitas as contas subimos as escadas, acompanhados por uma das jovens mulheres.
Com grande espanto nosso, deparámos com uma sala na semi-obscuridade, pejada de genuflexórios e, na parede frontal, um altar, sobre o qual alvejava o Santíssimo, alumiado por várias lamparinas.
Vários crentes, de joelhos, adoravam-n’O.
Explicaram-nos que o restaurante era servido por grupos de jovens voluntários e que, no meio do bairro da prostituição, a Paróquia decidira instalar um local de permanente adoração.
Lembrei-me há dias deste episódio de uma das minhas estadias em Paris.
Curioso, fui consultar a internet.
E verifiquei que o Bistrot du Curé fechara portas no ano de 2002, pois a clientela tornou-se insuficiente para suportar as despesas.
Por outro lado, parece que as zonas da prostituição terão, no entretanto, debandado para outros bairros da cidade.